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A logística afeta diretamente todas as pessoas. Na mobilidade urbana, nos prazos de entrega, nos altos custos do transporte de cargas que pagamos embutidos nos produtos que compramos etc.
O meio ambiente também é diretamente afetado por uma logística como a brasileira, que privilegia o transporte rodoviário, quatro vezes mais poluente que o ferroviário, por exemplo, e mais de dez vezes mais poluente que o aquaviário.
Em São Paulo, por exemplo, cada habitante recebe 1,4 tonelada de poluentes por ano.
Com a macroeconomia do país não é diferente. No dia 4 de setembro, em Genebra, o Fórum Econômico Mundial (The World Economic Forum – WEF) publicou o ranking de competitividade 2313-2014, criado na década de 1980.
Trata-se de um relatório que combina dados estatísticos nacionais e internacionais com a opinião de executivos. No Brasil, por exemplo, dois 2 mil deles foram entrevistados.
Na prática o estudo avalia as condições oferecidas por um determinado país para que as empresas que nele operam tenham sucesso no contexto nacional e internacional, promovam o crescimento sustentável e, ainda as empresas, ofereçam melhorias para as condições de vida da nação.
Dentre os 148 países analisados pelo Relatório Global, o Brasil caiu da 48ª para a 56ª posição, um recuo histórico. A falta de infraestrutura básica tem sido apontada como a mais determinante para o pessimismo do empresariado, assim como a deterioração macroeconômica.
No Brasil o documento foi feito em parceria com a Fundação Dom Cabral (FDC) e o Movimento Brasil Competitivo (MBC).
Carlos Arruda, coordenador do Núcleo de Inovação e Empreendedorismo da Fundação Dom Cabral, responsável pela análise dos dados brasileiros do ranking, relativiza ao dizer que o Brasil perdeu também porque outros melhoraram.
É o segundo resultado negativo do Brasil em rankings de competitividade neste ano. Em outro levantamento, divulgado em maio pelo International Institute for Management Development (IMD), também em parceria com a Fundação Dom Cabral, o País ficou em 51º lugar entre 60 países avaliados.
A Suíça liderou a lista das economias mais competitivas pelo quinto ano seguido no ranking do WEF e, em 2013, foi seguida por Cingapura e Finlândia, assim como no levantamento anterior. Alemanha e Estados Unidos completaram a lista dos cinco primeiros postos.
Dos cinco países dos Brics, a China (29ª) segue líder, seguida pela África do Sul (53ª), Brasil (56ª), Índia (60ª) e Rússia (64ª). Dos Brics, somente a Rússia melhorou a posição no ranking, subindo três colocações. O Brasil teve a queda mais brusca, África do Sul e Índia caíram uma posição e a China manteve a colocação de 2012. Essa situação liga um sinal de alerta, o “céu de brigadeiro” vivido pelos emergentes nos últimos dez anos se enubla.
Na América Latina, o Brasil ficou atrás, do Chile – que, na 34ª posição, lidera o ranking regional –, do Panamá (40ª), Costa Rica (54ª) e México (55ª). A Argentina foi o país do Hemisfério Sul que teve a maior queda, de dez posições, para 104ª. A Venezuela caiu para a posição 134. Segundo o relatório, os dois países apresentam um quadro crítico em seus fatores institucionais e macroeconômicos.
Segundo o comunicado do WEF “A região latino-americana continua afetada por um funcionamento das instituições frágil, infraestrutura deficiente e ineficácia da designação dos fatores de produção”.
Setorialmente, o Brasil apresentou resultados decepcionantes em 11 dos 12 pilares para o desenvolvimento avaliados, principalmente no item “Eficiência do Mercado de Bens”, no qual recuou 19 posições, para a 123ª. Esse item avalia, por exemplo, questões regulatórias, como o impacto alfandegário nas exportação de bens e tarifas no comércio internacional. “Nas questões regulatórias, que é avaliação dos empresários, o Brasil ficou em 139º lugar em 148 países; nas tarifas internacionais, um dado estatístico, está em 126º lugar”, disse Arruda.
O melhor desempenho do Brasil nos itens individuais avaliados e o único onde o País não perdeu posições do ano passado para cá é o “Tamanho do Mercado”, ficando em nono lugar. No entanto, sempre segundo Arruda, o dado positivo é ofuscado pelos outros indicadores. “Em todos os dados de infraestrutura básica, como estradas e portos, o País está entre os piores do mundo.”
Entre os piores do mundo… e mesmo assim, segundo o IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – do orçamento de R$ 646 bilhões previstos no PAC para obras, apenas R$ 37,1 bilhões estão destinados à infraestrutura de transportes, incluindo a portuária.
Segundo o mesmo instituto, essa fração não é satisfatória para atender o universo de demandas existentes, com o investimento previsto resta uma lacuna de R$ 33,02 bilhões em demandas no setor.
Malgrado esse panorama em si insuficiente, as obras da PAC não têm sido executadas segundo os cronogramas, o que ameaça o país de um colapso no sistema portuário, especialmente se o país retomar o crescimento.
O Brasil não pode parar! Devemos isso às gerações futuras. Aliás, “as gerações futuras irão cobrar responsabilidades de quem sabia e nada fez”.
Essa frase, do primeiro ministro francês Jacques Chirac, precisaria ser lembrada nessa hora por quem no Brasil atual pode, mas não está fazendo. Não falo só do governo atual não. Agora, prover reduções de impostos para estimular a venda de automóveis que já se espremem em engarrafamentos (imposto que poderia ter duplicado estradas, construído ferrovias), foi, segundo minha avaliação, mas também a do senso comum, um dos maiores erros estratégicos contra a logística do país.
E não é só contra o bom senso, logística e economia que se atentou. A poluição ambiental é responsável também por inúmeras mazelas, incluindo inúmeras mortes.
A mesma eficiência logística que teria o condão de aumentar a competitividade nacional causaria uma virtuosa reação em cadeia.
Fonte: O Diário